Quando discutimos objetos e eventos singulares, precisamos enfrentar o problema da medição, também chamado de “efeito do observador”: de que modo a nossa medição ou observação altera a – ou causa o “colapso” da – possibilidade e a transforma em realidade. Afirma Amit Goswami, que a solução do problema da medição é pensar no colapso como o resultado da escolha feita por uma consciência não local. E Deus não joga dados.
Temos o determinismo estatístico para muitos objetos e muitos eventos, assegurando uma ciência preditiva das coisas inanimadas. Mas também temos a liberdade de escolha, o livre-arbítrio, para atos individuais de seres biológicos, sempre que isto for capaz de funcionar por meio da consciência não local.

Neste caso, também, a memória adquirida por reações prévias a estímulos produz um comportamento previsível e condicionado do estado comum da consciência ao qual damos o nome de ego, o domínio do comportamento previsível na psicologia (tal como Amit Goswami explicou em “O universo autoconsciente”). O nosso desafio é erguermo-nos acima do ego para chegarmos à consciência superior, com acesso à criatividade e à transformação.
Para incluir o ser humano como um todo na nossa ciência, precisamos validar as nossas experiências interiores; e chamá-las simplesmente de epifenómenos da matéria não ajuda. Como codificou o psicólogo Carl Jung, além de se sentir o externo, há outros aspetos internos discerníveis da nossa experiência consciente, consistentes em pensamento, sentimento e intuição.
Desses três elementos, dois não são computáveis, o sentimento e a intuição, e por isso não podemos sequer processá-los.
O que sentimos? Sentimos movimentos semelhantes a energias, que instrumentos materiais não podem medir. Na China, chamam a esses movimentos de chi; na Índia, de prana; no Ocidente, são chamados de energia vital. Essas culturas antigas, por exemplo, criaram todo um sistema medicinal baseado no conceito de energia vital, como a acupuntura e a terapêutica ayurvédica, que não pode ser reduzido a uma medicina alopática tradicional.
O que intuímos? Esta é a mais sutil das nossas experiências sutis, e por isso as opiniões variam um pouco. Mas uma longa lista de tradições e filosofias aponta que as coisas que intuímos podem ser imaginadas como arquétipos, contextos de alguns dos conceitos que mais prezamos. Para citar os principais exemplos, temos a verdade, a beleza, a justiça, o amor e a bondade. Naturalmente, não podemos computar o pensamento intuitivo.
Mesmo no caso de pensamentos mentais, os computadores podem processar o seu conteúdo, mas não o seu significado. Obviamente, portanto, sentimento, intuição e pensamento não podem ser reduzidos a fenómenos secundários da matéria. O pensamento correto exige que, nessas experiências de pensamento, sentimento e intuição, estejamos a causar o colapso de possibilidades quânticas de três mundos não materiais distintos, cada um correspondendo a cada uma dessas experiências.
Como o mundo físico, todos esses múltiplos mundos de possibilidade são mundos dentro da consciência. O mundo da consciência é um multiverso!
Desse modo, a classificação das possibilidades quânticas da consciência em quatro compartimentos, quatro mundos diferentes – físico (dos sentidos), vital (dos sentimentos), mental (dos pensamentos) e supra mental (das intuições) –, decorre da estrutura conceitual da física quântica e da nossa experiência direta.
Como é que esses compartimentos distintos da realidade interagem sem o paradoxo do dualismo? A consciência medeia a sua interação quando, simultânea e não local mente, causa o colapso de possibilidades nos diversos compartimentos para sua experiência.
Tomemos como exemplo uma situação bem conhecida. Você vê uma pessoa atraente do sexo oposto. Há a sensação de um corpo físico manifestado. Há um sentimento associado a um ponto na região do corpo próxima ao seu coração, que os orientais chamam de chacra cardíaco. Há um pensamento na sua mente: “oh, seria muito bom conhecer esta pessoa”. E pode até haver uma intuição supramental, mapeada num pensamento: “Estou apaixonado”.
Nota-se aqui, claramente, a consciência mediando a interação dos seus diversos compartimentos para que se possam manifestar de uma só vez.
Fontes:
GOSWAMI, Amit. The self-aware universe: how consciousness creates the material world. Nova York: Tarcher/Putnam, 1993. [O universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. 2.ed. São Paulo: Aleph, 2008.]
GOSWAMI, Amit. The visionary window: a quantum physicist’s guide to enlightenment. Wheaton, IL: Quest Books, 2000. [A janela visionária: um guia para a iluminação por um físico quântico. São Paulo: Cultrix, 2006.]
GOSWAMI, Amit. Physics of the soul: the quantum book of living, dying, reincarnation, and immortality. Char lottsville, VA: Hampton Roads, 2001. [A física da alma: a explicação científica para a reencarnação, a imortalidade e a experiência de quase-morte. 2.ed. São Paulo: Aleph, 2008.]
GOSWAMI, Amit.. The quantum doctor: a physicist’s guide to health and healing. Charlottsville, VA: Hampton Roads, 2004. [O médico quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura. São Paulo: Cultrix, 2006.]
GOSWAMI, Amit. God is not dead: what quantum physics tells us about our origins and how we should live. Charlottsville, about our origins and how we should live. Charlottsville, VA: Hampton Roads, 2008. [Deus não está morto: evidências VA: Hampton Roads, 2008. [Deus não está morto: evidências científicas da existência divina. São Paulo: Aleph, 2008.]
GOSWAMI, Amit. Creative evolution: a physicist’s resolution between Darwinism and intelligent design. Wheaton, IL: Theosophi Darwinism and intelligent design. Wheaton, IL: Theosophical Publishing House, 2008. [Evolução criativa das espécies: uma resposta da nova ciência para as limitações da teoria de Darwin. São Paulo: Aleph, 2009.]
GOSWAMI, Amit. Creativity at the time of crisis and paradigm shift. Center for Quantum Activism, 2011. [Criatividade para o século 21: uma visão quântica para a expansão do potencial criativo. São Paulo: Aleph, 2012.





Dr. Colin Barron


